O naufrágio do "Imperial Marinheiro"
Na madrugada de 7 de setembro de 1887, uma noite de tempestade com mar revolto, o Cruzador Imperial Marinheiro, que se dirigia em comissão de sondagem a Abrolhos, chocou-se contra o pontal sul da barra do rio Doce, a cerca de 120 metros da praia do povoado de Regência, distrito da cidade de Linhares, no Espírito Santo.
Um escaler com doze tripulantes foi baixado para buscar socorro em terra; destes, apenas oito chegaram à praia.
A população de Regência mobilizou-se para tentar auxiliar a tripulação do cruzador que naufragava, mas pouco se podia fazer por causa do mar violento. Ao amanhecer do dia, Bernardo se dispôs a nadar até o navio levando um cabo de espia, por onde os tripulantes poderiam vir um a um, pendurados, até à praia. Bernardo lançou-se quatro vezes ao mar, sendo arremessado de volta a terra pelas ondas. Na quinta tentativa, obteve sucesso e o cabo foi amarrado ao navio.
Bernardo, ao lado de três marinheiros do navio de guerra, participou de todo o processo do resgate, acompanhando os náufragos até a praia num pequeno bote amarrado ao cabo. Graças aos esforços de todos, após cinco horas de luta, dos 142 tripulantes do "Imperial Marinheiro" salvaram-se 128. Não há registro se os corpos das 14 vítimas fatais foram ou não encontrados posteriormente.
O herói Caboclo Bernardo
No dia 20 de setembro de 1887, Bernardo recebeu uma homenagem pública em Vitória, capital da província. Em entrevista ao jornal "A Província do Espírito Santo", ele declarou "eu vi o navio perder-se e então prendi o cabo aos dentes e atirei-me ao mar para salvá-los". Em seguida, ele viajou para o Rio de Janeiro, onde em 29 de setembro foi recebido pela alta cúpula da Marinha de Guerra. Em 6 de outubro, numa audiência, a Princesa Isabel o condecora com uma medalha de ouro e lhe confere um diploma onde se lê:
- "Eu princesa Isabel Regente, em nome do Imperador o Sr. D. Pedro II: faço saber aos que esta carta virem, que atendendo a dedicação não comum pela humanidade que mostrou o remador da catraia da Barra do Rio Doce, que Bernardo José dos Santos, salvando com risco da própria vida às de muitos indivíduos, por ocasião do naufrágio do "Imperial Marinheiro", ocorrido na madrugada de 7 de setembro, próximo findo, a duas milhas ao sul daquela barra, e querendo dar-lhe uma demonstração de meu imperial agrado, por tão importante serviço: Hei por bem fazer-lhe mercê de medalha de 1a. classe designada pelo Art. 1 das instruções a que se refere o decreto No. 1579 de 14 de março de 1855. 66o. anos da Independência do Império. (Ass.) Princesa Imperial Regente - Barão de Cotegipe."
Bernardo voltou à Barra do Rio Doce e à sua vida rotineira de pescador. Participou ainda de outros resgates de navios, mas nenhum tão dramático quanto o do "Imperial Marinheiro"; com o passar do tempo, ele acabou caindo no esquecimento. A medalha da Regente, por muitos anos, esteve guardada na residência de um comerciante da região, Cléris Moreira. Seu paradeiro atual é ignorado e suspeita-se que tenha sido roubada por alguém que desconhecia seu valor histórico.
Muito interessante!Parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirZuzu